sábado, 19 de junho de 2010

TORTURADO


Os punhos e os tornozelos foram amarrados com arame farpado. À medida que foi sendo apertado contra a carne, o arame foi rasgando a pele e súbito o sangue começou a escorrer. Natan gritou de dor assim que Billy ergueu seus braços e esticou as pernas. A dor latejou em sua alma. Natan estava suspenso, preso apenas pelo arame que rasgava seus punhos.


— Por que você está fazendo isso? — perguntou, com lágrimas nos olhos.


— Foi você quem pediu Natan. A culpa é toda sua.


— Não! — gritava Natan. — Por que?


Billy sorriu.


O local era o porão da própria casa de Natan. Ao surpreendê-lo no sofá assim que invadiu a casa, Billy sabia que estava infringindo uma lei. Porém, sabia que estava querendo cortar o mau pela raiz. O confronto entre eles foi suficiente para Natan perceber que tinha entrado num mato sem cachorro, e que a sua pretensão o tinha levado a isso.


— Não mandei você mexer com a minha mulher... — começou Billy, olhando para os punhos e para os tornozelos quase em carne viva que derramavam sangue. — Saiba Natan, eu andei observando muitas vezes você atrás dela. Foi um erro que você cometeu...


— Mas eu não tive nada com ela.


— Não venha me dizer isso, seu merda! Agora você pagará por isso...


Os olhos de Natan esbugalharam e o suor começou a sair por todos os poros do seu corpo. O sangue dos punhos escorreu pelo braço até chegar aos ombros. Billy o observava. Observava sua angustia sem uma ponta de dó.


— Me deixe em paz! — gritou.


— Não Natan. Saiba que sempre gostei de destruir coisas, e adorava arrancar os braços e as cabeças das bonecas da minha irmã — Billy soltou uma doce gargalhada.


O olhar de Natan petrificou.


— Se eu pudesse lhe dar um conselho que você realmente ocuparia, seria nunca mexa com a mulher dos outros, senão você vai acabar se dando muito mal. É uma pena que você realmente acabou mexendo. E justamente com a minha ainda! — sentenciou.


— Já disse que não...


Billy carregou o punho e desferiu um soco na boca do estomago de Natan.


— Cale a boca. Está na hora de acabar com você de uma vez.


Ao virar as costas, Natan sentiu o sangue gelar. Billy sumiu na escuridão. O porão velho e úmido abrigava dois homens. Somente um deveria sair vivo. E minutos depois Natan, que tentava de todas as formas escapar dos arames que o amarravam e que cada vez mais destruíam a sua pele, ouviu um barulho que jamais desejou ouvir – não àquela hora. Uma serra elétrica havia sido ligada. O que Billy estaria tramando? O que seria aquilo?


Vindo da escuridão, ele ficou de frente para Natan. Seu olhar inchado de medo fitou aquela serra berrando a sua frente como se fosse um animal louco por sangue.


— Não! Não faça isso Billy. Não faça...ahh!


Billy sorriu antes de atorar uma das pernas de Natan. Ele gritou de dor. Depois, no embalo do ritmo, cortou fora a outra perna. O sangue descia como se fosse uma torneira. Em seguida, louco e cônscio daquilo, Billy atorou um dos braços e viu, com o peso do corpo, Natan cair no chão. Mas, não se sentindo satisfeito, partiu o corpo de Natan em dois, como se fosse um pedaço de carne qualquer. Era muito sangue!


Billy largou a serra, cuspiu no que restara de Natam e subiu a escada em direção a rua.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O RELATO DE UMA MALDIÇÃO


Meu Deus! Cada vez que lembro daquela casa sinto os meus nervos se atrofiarem de medo. É sério! O medo que se apodera de mim quando me recordo daqueles tempos de infortúnio e trevas, causa-me certos transtornos mentais que ainda nos tempos atuais, mesmo que eu tente saber, jamais encontrarei explicação. Sei que muitos agora hão de duvidar de minhas palavras... aliás, nem peço que as absorvam como verdade, apenas quero que saibam que isto realmente aconteceu comigo e, antes que eu comece a relatar os fatos abaixo, peço-lhes apenas uma coisa: não queiram saber o que aconteceu, e expulsem essa história de seus pensamentos, pois não gostaria de saber que o que aconteceu comigo venha a acontecer com mais alguém.


A casa em questão situa-se em um pequeno vilarejo habitado por pouquíssimas famílias. Era a mais bela das mansões e, ainda, a que mais externava medo. A possibilidade de instalar-me ali e obter sossego e paz foi o que me despertou atenção e ânsia em comprá-la.


Sem preâmbulos, começarei a relatar os diabólicos fatos que me arrancam o sossego até os dias de hoje. Naquela noite a casa jazia em silêncio, e no quarto maior onde me instalei, um barulho estranho me atrapalhava o sono. Percebi que as paredes, assim que abri os olhos, estavam todas sujas de sangue e unhas invisíveis iam riscando a porta e o teto, causando-me arrepios nos dentes. Fechei os olhos. Tentei dormir. Era assustador! Na noite seguinte, enquanto pernoitava, outra coisa se apoderou daquele quarto. O sangue subitamente começou a escorrer pelas paredes como veias abertas. Tentei ignorar aquela visão e rapidamente me cobri de medo. Em outra noite ouvi gemidos e passos no quarto. Pensei estar delirando, mas, de súbito senti algo puxar minha perna. Deslizei pela cama como se alguma coisa estivesse realmente ali. Tentei me agarrar na cabeceira, mas não resisti. Gritei em busca de socorro. Mas quando caí de costas no chão percebi que não havia nada ali. Coloquei a mão na perna e senti algo. Liguei a luz e vi que ela estava lavada de sangue. Assustei-me e sai do quarto. Aturdido, desmaiei no corredor.


Não agüentando mais, comecei a pensar na possibilidade de escafeder-me daquela maldita casa. Porém, alguma coisa não queria me deixar ir embora. Enquanto eu lavava a louça na pia certa noite, senti uma par de mãos me tocar as costas. Virei-me. Nada vi. Minutos depois, aquele mesmo par de mãos fez mergulhar minha cabeça na água dentro da pia. Comecei a me afogar e a me debater como um louco. Pensei que o demônio estivesse naquela casa. Mais tarde, enquanto deleitava-me no banho, outra coisa aconteceu. A água do chuveiro que eu saboreava, mudou-se da água para o vinho, ou melhor, da água para o... sangue! Sim, sangue! Trêmulo, saí do banheiro ainda com o corpo lambuzado. Fui até a cozinha, e lá chegando encontrei todas as gavetas e portinholas dos armários abertas. Respirei deficientemente e, antes de tentar fazer algo, corri até a porta que me levava para a rua. Porém, antes de chegar até ela, senti meu cabelo sendo puxado. Gritei de dor. Fui jogado no chão, e de repente algo fez a minha visão escurecer.


Dois dias depois eu estava decidido em ir embora daquele inferno. Preparei minhas malas e tentei partir. Enquanto eu atravessava a sala, olhei para o espelho e foi ai que vi um vulto negro no reflexo. Parei. Sentindo o sangue borbulhar e o frio comer-me as entranhas, corri para a porta, mas ela se fechou sozinha. Fiquei sem ação. Abri uma janela na sala e joguei as minhas coisas para fora, depois coloquei as mãos sobre o patamar e ia pular quando, de repente, ela fechou rapidamente sobre minhas mãos. O sangue jorrou dos meus dedos. Sem pensar, quebrei os vidros com a cabeça e, extraindo as mãos ensangüentadas que estavam presas, consegui pular.


Sai correndo estrada afora para nunca mais voltar.