quarta-feira, 3 de março de 2010

O ÚLTIMO SUSPIRO DE ADEUS


Os momentos últimos da angustiante luta pela sobrevivência fizeram de Murillo um homem nobre. Seus gestos de bondade, seu ar sempre afável e a sua sempre disponível vontade de promover aquela paz que em vida nunca teve, tudo, exatamente tudo em seus últimos suspiros, foi algo digno de uma benção divina.

— Chamaremos um padre — proferiu Glória, sua mulher, que com o acúmulo dos anos tornou-se uma pessoa de fibra, e que agora já tem na cabeça a idéia de que a morte logo virá buscar o seu marido. — Precisamos fazer a Extrema-Unção — proferiu.

Descansando sobre o leito fétido e sem vida de um hospital, Murillo, com seus quase 75 anos de idade sabia que a morte estava quase batendo a porta daquele quarto, que a sua carruagem já estava chegando e que logo abanaria para esse mundo. Seu aspecto cadavérico provocava lágrimas aos que lhe visitavam. Seus familiares, entorpecidos de tristezas e de tanto proferir choros às escondidas, já nem as derramavam mais.

— Como está se sentindo sr. Murillo? — Perguntavam.

— Estou bem. A cada dia que passa tenho a certeza de que Deus está tirando com a minha cara ao me deixar aqui, agonizando — reclamava com uma dose de sarcasmo.

Na noite em que ia ser entregue as preces do padre, Murillo solicitou apenas uma coisa, uma única coisa. Convocou Glória e lhe falou secretamente.

— Meu amor, sabe que sempre lhe amei, e que agora, nesta hora maldita, minha vida está para ser encerrada. Sabe que...

— Murillo, não fale isso — interrompeu ela.

Ele sorriu.

— Entenda Glória, a vida tem um começo e um fim. E o fim da minha chegou. Rogo para que Deus a proteja e a guie. Cuide de nossos filhos e netos, nessa minha ausência esperada. Os anos me foram gratos por tê-la tido ao meu lado e só tenho a agradecer por tudo o que me destinastes. Saiba que sempre amarei você.

Em prantos, Glória começava a secar as lágrimas que aos poucos iam riscando a sua face carregada de rugas. Curvou-se com dificuldade e abraçou-o. Ambos choraram, e quando Murillo fez menção em falar, ela levantou-se novamente.

— Glória, quero lhe pedir uma única coisa.

— Peça o que você quiser — disse ela com a voz rouca.

— Me deixe morrer. Me deixe morrer sozinho! Hoje à noite, antes da Extrema-Unção, quero me despedir de você e das crianças, depois disso, quero passar à noite sozinho e esperar por ela. Sei que essa noite a morte virá me buscar...

Glória não disse uma palavra, mas por fim, acatou ao ultimo pedido do marido.

Murillo despediu-se de seus entes, e após a Extrema-Unção, disse adeus ao mundo. Entrava madrugada adentro quando o padre fechou a porta do quarto, lacrando-o como se fosse uma tumba. A morte estava quase chegando, e aquela escuridão fez Murillo ligeiramente relembrar dos seus anos em poucos minutos. E quando a morte entrou, seus olhos fecharam, a voz se calou e a respiração cessou. Sua alma tinha ido embora, e ela, tão bela quanto o negror de uma maldição, carregou mais um de seus adoráveis presentes.

8 comentários:

Taiane Pegoraro disse...

apesar da história ser um pouquinho macabra e me deixar com um pouco de medo, adorei ! a criatividade é inegável.. me lembrou contos de Machado de Assis, ele e seu humor sarcástico. Realmente bem escrito! espero tua visita no meu blog, e se me seguires me avisa que te sigo tb ok?
bejo

Camila R disse...

que tenso O:

Bruna e Marii disse...

Ah gostei muito ,muito legal ... apesar do final ser triste . Parabéns :)

Pedro Lima disse...

gostei do blog...

Lara disse...

Muito bom...parabens!

Artur disse...

demais *-*
mtu bom o texto cara
li todinho hahaha
eu meio q fiz uma parecida no meu antigo blog ^^
to te seguindo
passa no meu dps ;]

http://stuffartie.blogspot.com/

Cabral disse...

Putz...vc tem uma criatividade inegavél! parabéns pelo post!

Kauê Pereira disse...

Bastante profundo!

Gostei pra caramba!

Principalmente do final!